Doenças Urológicas • Rim
Pedra nos Rins | Cálculo Renal ou Nefrolitíase
A litíase urinaria é a doença caracterizada pela presença de cálculos ou pedras no sistema urinário sendo o local mais frequente os rins, podendo, entretanto, ocorrer também na bexiga, nos ureteres e na uretra. Trata-se de patologia altamente prevalente no mundo todo sendo que sua incidência pode variar bastante na dependência de vários fatores como localização geográfica, ocupação profissional, idade, gênero, raça e hábitos alimentares.
Sua incidência vem aumentando e em geral acomete cerca de 10 a 15% da população. A recorrência é bastante frequente. O indivíduo que teve uma cólica renal tem cerca de 15% de apresentar novo episódio nos primeiros 12 meses e 40% a 50% nos próximos 5 anos. Os cálculos urinários são mais frequentes nos homens que nas mulheres embora esta diferença venha diminuindo ao longo dos últimos anos.
O que provoca pedra nos rins?
Os principais fatores que contribuem decisivamente para a formação das pedras nos rins, independente de predisposição genética ou familiar, são o excesso de sal da dieta, o excesso de proteína animal ( carne) e a baixa ingestão de água. Portanto essas recomendações servem para qualquer pessoa que tenha pedra nos rins..
A condição fundamental para a formação de uma pedra nos rins é a supersaturação urinária, ou seja, precisa haver uma concentração aumentada de uma ou mais substancias formadoras de cálculos na urina como o cálcio, ácido úrico, oxalato e a cistina.
Na maioria dos casos há distúrbios metabólicos associados e um componente hereditário envolvido. Entretanto diversos fatores podem influenciar na evolução e na recorrência da doença. A incidência da pedra nos rins é maior em regiões mais quentes e também entre pessoas que trabalham expostas a altas temperaturas como cozinheiros e trabalhadores em casas de máquinas. Nesta situação à princípio se desidratam com mais facilidade e tem a urina cronicamente mais concentrada facilitando a agregação das substancias envolvidas no surgimento dos cálculos.
Pacientes portadores de gota ou hiperuricosúria (concentração de ácido úrico aumentada na urina) também são predispostos à formação de pedra nos rins. A obesidade, o sedentarismo, o diabetes e a síndrome metabólica são outros exemplos de doenças que se correlacionam com a nefrolitíase.
Quais são os sintomas da pedra nos rins?
O que é a cólica renal?
A apresentação clássica é a cólica renal, descrita como sendo uma das piores dores conhecidas. Caracteriza-se por dor intensa, geralmente de início súbito, na região lombar, que pode se irradiar para a parte anterior do abdome e eventualmente para os testículos no homem e para a vulva nas mulheres. Na maior parte das vezes os quadros são acompanhados de náuseas, vômitos, sudorese fria e palidez cutânea sendo que tais pacientes invariavelmente são levados ao serviço de emergência para analgesia endovenosa.
A cólica renal na maioria das vezes é desencadeada pela migração de pedras que saem do rim, onde geralmente se formam, para os ureteres, promovendo obstrução do fluxo urinário e o acumulo de urina, levando a dilatação renal progressiva (hidronefrose).
Boa parte das vezes é provocada por pequenos cálculos podendo ser conduzida de forma conservadora sendo prescritos medicamentos que facilitam sua eliminação, o que ocorre em cerca de 80% dos casos.
Por outro lado, este quadro, quando persistente, pode comprometer progressivamente a função do órgão, principalmente nos casos prolongados, podendo levar a sequelas irreversíveis em graus variados.
A complicação aguda mais preocupante é o surgimento de uma infecção urinária na presença de obstrução ureteral por pedras, tratando-se nestes casos, de uma emergência médica devido aos seus altos índices de desfechos graves como septicemia (infecção generalizada) e até mesmo o óbito.
Portanto, devido ao quadro acima descrito, o surgimento de febre nestes pacientes requer condutas rápidas no sentido iniciar imediatamente a antibioticoterapia endovenosa e procedimentos endoscópicos para a pronta desobstrução do rim.
Alguns casos tem uma apresentação mais atípica como dor pélvica associada à vontade frequente e persistente de urinar (polaciúria) e sensação de esvaziamento incompleto da bexiga, ocasião em que pode ser confundida com uma cistite (infecção urinária restrita a bexiga). Tais sintomas se devem geralmente a um pequeno cálculo impactado próximo à bexiga.
Quadro interessante é o do cálculo coraliforme. Ele recebe este nome por que cresce e preenche toda a cavidade do rim tomando a forma de um coral do mar. Geralmente está relacionado a infecção urinaria.
Apesar do seu grande volume, o calculo coraliforme inicialmente pode ser completamente assintomático ou se manifestar apenas através de episódios recorrentes de infecção urinária. Entretanto, com o passar do tempo geralmente torna-se obstrutivo levando a acentuado prejuízo à função renal e à complicações infecciosas graves.
Muitas vezes presenciamos esses pacientes que sempre conviveram com infecções urinárias leves e por isso menosprezadas, evoluírem com quadros graves muitas vezes submetidos a cirurgias de urgência.
Ultimamente a evolução da tecnologia e dos aparelhos urológicos tem permitido o tratamento de tais cálculos com procedimentos minimamente invasivos e com excelentes resultados evitando tais complicações.
Quais os exames devem ser realizados?
Na fase aguda da cólica renal o exame mais indicado é a tomografia computadorizada de abdome devido à sua rapidez e alta sensibilidade na detecção dos cálculos renais e ureterais. Realiza-se também, exames laboratoriais para avaliarmos a função renal e a possibilidade de infecção associada.
Qual é o tratamento da pedras nos rins?
O tratamento dos cálculos renais se divide em tratamento clínico e cirúrgico.
Tratamento clínico da pedra nos rins
No caso do tratamento clínico de pedra nos rins, inicialmente fazemos o tratamento da urgência, que seria o o controle da cólica renal com a prescrição de medicamentos visando o controle da dor. Após a realização do diagnóstico correto e naqueles casos de cálculos pequenos em pacientes sem complicações, geralmente prescrevemos a terapia expulsiva através de medicamentos que à princípio facilitam a eliminação dos cálculos o que ocorre em até 80% dos casos.
Uma vez resolvida a fase das cólicas renais, seja através do tratamento expulsivo ou da cirurgia, já tendo o paciente retornado à sua vida normal e à rotina do dia a dia, partimos então para a investigação da causa da formação das pedras feita através de um conjunto de exames que chamamos de avaliação metabólica. Através dela podemos identificar distúrbios metabólicos que estão levando à formação das pedras e atuarmos sobre eles evitando a formação de novas pedras e também que aquelas que já existem cresçam.
Trata-se portanto de uma fase de extrema importância uma vez que a nefrolitíase é uma doença altamente recidivante. Infelizmente é muito negligenciada por boa parte dos formadores de pedras que após resolverem o período de dor retomam a sua rotina e acabam retornando somente com novo episódios de cólica renal. Desta forma alguns deles acabam necessitando de repetidas cirurgias para a retirada de novos cálculos na urgência.
Tratamento cirúrgico da pedra nos rins
Nas ultimas décadas, com o advento da endourologia e da cirurgia minimamente invasiva houve uma mudança no panorama e um grande avanço no tratamento dos cálculos renais transformando radicalmente seus resultados.
No passado os pacientes portadores de pedra nos rins e com cólica renal tinham apenas 02 caminhos para resolverem o seu problema: Aguardar a eliminação espontânea, prolongando o seu sofrimento e aumentando a possibilidade de complicações, ou se submeterem à cirurgia tradicional aberta com maior morbidade, dor e afastamento das suas atividades habituais com período de convalescência prolongado.
Por tratar-se de doença altamente recorrente, muitos deles se submetiam a várias cirurgias abertas com todas as repercussões já citadas, além de piores resultados funcionais e estéticos.
Felizmente hoje, nos melhores hospitais, dispomos de um grande arsenal de equipamentos que permitem o tratamento adequado e minimamente invasivo dos cálculos na grande maioria dos casos sendo a cirurgia aberta conduta de exceção.
Principais cirurgias para cálculos renais
A escolha da cirurgia mais adequada para o paciente deve ser individualizada levando em consideração fatores como tamanho e localização das pedras, anatomia e biotipo do paciente sendo que em casos complexos tais procedimentos podem ser associados e se complementarem visando melhores resultados.
Tais cirurgias são realizadas através de aparelhos modernos que são na verdade endoscópios urológicos. Tais equipamentos possuem uma câmera na sua extremidade permitindo a visualização e a navegação pelas vias urinárias. Possuem também um túnel em toda a sua extensão que por sua vez permitem a passagem de diversas pinças e materiais usados para fragmentação e retirada dos cálculos.
Ureterorrenolitotripsia rígida: Realizada com aparelho chamado ureteroscópio rígido. Indicada principalmente para os cálculos localizados no ureter médio e distal (mais próximos da bexiga), embora permita em muitos casos o acesso ao ureter proximal e ao rim. Como o próprio nome sugere, o aparelho não permite acesso adequado aos cálices renais, uma vez que é rígido e não faz curvas. Por este acesso podemos usar duas fontes de energia para a fragmentação das pedras: o litotridor balístico/pneumático e o laser.
Ureterorrenolitotripsia flexível com laser: Cirurgia realizada com de aparelho chamado ureterorrenoscópio flexível muito fino, delicado e maleável que nos permite navegar por toda a via urinária excretora ( canais urinários) inclusive dentro do rim e identificarmos as pedras. Permite ainda a passagem de uma fibra laser no seu interior através da qual promovemos a fragmentação de pedras.